25 de abril de 2025

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Após ano premiado, mulheres ajudam o Paraná a ser celeiro do café especial

Três mulheres levaram os prêmios do ano no Café Qualidade Paraná. Elas estão transformando a vida rural no Norte Pioneiro e na cafeicultura do Estado....

Após ano premiado, mulheres ajudam o Paraná a ser celeiro do café especial

s dos Santos Souza, de Pinhalão, no Norte Pioneiro, ficou em primeiro lugar na categoria natural. Eloir Inocencia Nogueira de Souza, de Tomazina, na mesma região, venceu na categoria cereja descascado. E Maristela Fátima Silva Souza, também de Tomazina, conquistou a segunda colocação nesta categoria.

O Norte Pioneiro é referência para os cafés especiais. Dos dez primeiros colocados do concurso deste ano, oito são da região cafeeira. “Foi muita emoção. Fiquei sem acreditar até o dia seguinte”, diz Sirlene, que recebeu o prêmio na solenidade de encerramento do concurso, em Apucarana (Vale do Ivaí), no dia 24 de novembro. Foi a primeira vez que ela participou. Ela tem 12 mil pés de café. “Mandei a amostra achando que não ia dar em nada e veio a surpresa com o anúncio. É o reconhecimento do trabalho de um ano inteiro e um incentivo para fazer cada vez melhor”.

O ano foi especial para Sirlene porque foi o primeiro em que ela, o marido e um dos filhos trabalharam exclusivamente para produzir o chamado café especial. Até o ano passado ela dedicava quase todo o tempo trabalhando fora da propriedade, como costureira.

Café especial é diferente do tradicional, embora sejam produzidos a partir da mesma planta. Os cuidados para obter a bebida final com mais atributos, como notas sensoriais, começa nos cuidados com o solo e segue nas demais etapas de manutenção da lavoura e, principalmente, na colheita seletiva dos grãos maduros.

A escolha dos grãos e o perfil de torra desenvolvido especificamente para o lote visam obter o melhor daquele café em relação ao clima e outras particularidades da região produtora, que são avaliados e classificados de acordo com critérios internacionais. Ele também não possui outros grãos externos, como milho, cascas e sementes, que podem encontradas no pó de café comum.

OUTROS EXEMPLOS – Pertinho Sirlene estão as vizinhas do Distrito de Matão, em Tomazina, envolvidas na produção de cafés especiais desde 2013 e já premiadas em edições anteriores. O concurso, segundo elas, é a porta de entrada ou primeiro degrau para o reconhecimento no mundo dos cafés especiais.

Desde o começo da década passada, Maristela e Eloir subiram rápido na carreira e chegaram à Capital do Paraná, vendendo cafés em cafeterias especializadas e a diversas partes do País por meio de marca própria ou coletiva. Com o concurso, as três mulheres também apreenderam a dominar a etapa pós-fazenda: a comercialização. Os grãos que saem do distrito foram exportados para países como Holanda, Austrália e Estados Unidos, por meio de uma empresa do Norte Pioneiro.

O primeiro prêmio de Maristela foi no concurso de 2017 e as conquistas foram se repetindo até 2020, incluindo as premiações da Feira Internacional de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná. “Desde a primeira participação comecei a ser conhecida como produtora. Querem o café da Maristela. Fico muito feliz de saber que meu café esteja nas melhores cafeterias, que já são clientes fixos, e que está no gosto das pessoas”, diz.

Com o sucesso, ela também aumentou a renda da família e o envolvimento já ultrapassa 17 mil pés de café. “Agora tenho pouco tempo no dia porque faço toda a comercialização e até criei minha marca, vendo pelas redes sociais. Me sinto uma empreendedora”, define ela, que também é a autora no nome e do projeto gráfico da embalagem. “Escolhi a logo dourada de um casalzinho, que mostra que a mulher é parte do negócio”.

Maristela também incluiu na propriedade o turismo, com a recepção dos visitantes para conhecer as etapas de produção do café especial, com pernoite e refeições. Ela faz parte da iniciativa Circuito de Turismo Rural - Caminho dos Cafés das Mulheres, da Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná (Amucafé) e IDR-Paraná, que reforça o trabalho das produtoras do Norte Pioneiro. Os turistas podem levar o café e xícaras personalizadas com a logomarca que ela tanto se orgulha.

Já Eloir, casada há 18 anos e com dois filhos, diz que o café especial trouxe visibilidade à mulher do campo. “Hoje tenho autonomia, consigo negociar sozinha com segurança, depois de anos de especialização”, diz. Ela soube do último resultado pela cunhada, a Maristela. “Fiquei em choque, tremia. Sei que o meu café é bom, mas vencer um concurso é sempre maravilhoso, é a valorização de muito trabalho”, relata a outra campeã, que já conquistou boas colocações em edições anteriores: o 1º lugar em 2015 e, mais recentemente, o 3º lugar em 2021, mas na categoria natural.

Maristela e Eloir dividiram a mesma máquina de separação dos frutos neste ano. “É uma forma de a gente se ajudar. Com maquinário coletivo, promovemos a nós mesmas”, destaca Eloir. Segundo ela, 90% das famílias de Matão têm a renda ligada direta ou indiretamente ao café.

MULHERES DO CAFÉ – O café das mulheres é fruto de um trabalho coletivo. As três vêm de famílias que produziam o café tratado como commodity, tendo a qualidade como objetivo final. O ponto de virada veio com o projeto Mulheres do Café, iniciativa do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), do Governo do Estado, que deu visibilidade a elas para que pudessem ser reconhecidas. Sirlene passou a fazer parte do grupo este ano. Eloir e Maristela participam desde o início.

O projeto começou em 2013 e, atualmente, abrange mais de 250 mulheres, distribuídas por 12 grupos de 11 municípios do Norte Pioneiro: Curiúva, Figueira, Ibaiti, Japira, Jaboti, Pinhalão, Tomazina, Siqueira Campos, Salto do Itararé, Joaquim Távora e Carlópolis unidas na Amucafé, também vinculada à Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA), instituição de valorização ao trabalho feminino nessa cadeia.

Recentemente elas promoveram um evento próprio de avaliação. O Centro de Qualidade do Café, na sede de pesquisas do IDR-Paraná, em Londrina, foi palco da 6ª edição do Cup das Mulheres, dias 5 e 6 de dezembro. Os 22 lotes que participaram do concurso foram avaliados por uma comissão de provadores com base no protocolo da Associação de Cafés Especiais (SCA, na sigla em inglês).

“Isso é o que está caindo no gosto do mundo, cafés de qualidade”, diz o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara. “É preciso valorizar o esforço de todos para diferenciar um produto tão nobre, que já foi símbolo histórico do Paraná, que construiu o Brasil, que construiu São Paulo. Estamos nos tornando a terra do café especial, café gourmet, bebida pontuada, do café das mulheres, e isso faz muito bem”.

NORTE PIONEIRO – Desde 2012, o Norte Pioneiro detém a certificação de Indicação Geográfica de Procedência (IGP), emitida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A região participa com cerca de 65% na produção do Estado e registra a maior proporção de café especial colhido.

Por: SOT/Via: Agência de Noticias do Paraná - Foto: Divulgação - Foto:

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