Projeto utiliza técnica de cultura ancestral para promover a ressocialização de apenados

A Cadeia Pública de Medianeira, administrada pela Polícia Penal do Paraná (PPPR), segue realizando atividades em parceria com os demais órgãos da execução penal. O Projeto “Do Sonho à Liberdade” é uma dessas iniciativas. Desta vez, a atividade foi desenvolvida em conjunto com o Conselho da Comunidade de Santa Helena, município vizinho, distante 64 km de Medianeira, que forneceu os recursos para a confecção dos chamados “filtros dos sonhos”, que serão utilizados pelo Conselho em campanha comemorativa ao Dia Internacional da Mulher.

Além do uso prático na campanha citada, o projeto tem o objetivo de promover, dentro do ambiente prisional, uma cultura de esperança e valorização através de um processo terapêutico que utiliza a laborterapia como instrumento de promoção do trabalho, da autoestima e da criação de novas percepções através dos sonhos e metas para pessoas privadas de liberdade (PPL). É uma oportunidade para aquele que está sancionado pela lei de reconstruir a vida por meio do trabalho, traçando metas que impulsionem uma ressignificação de seus atos e das consequências deles.

O que são os filtros dos sonhos? - Os filtros dos sonhos, ou dream catchers, são elementos culturais presentes nos povos indígenas da América do Norte, surgindo inicialmente no povo Ojibwa que habitava a região dos grandes lagos no centro-oeste do continente. Os povos originários acreditavam que esses amuletos tinham a capacidade de purificar as energias, separando os sonhos negativos dos positivos, além de trazer sabedoria e sorte a quem os possuísse. A cultura dos filtros dos sonhos se disseminou por vários povos indígenas da América do Norte, muito por conta da integração e trocas comerciais.

“O Projeto desenvolvido pelo Conselho da Comunidade de Santa Helena, em parceria com a Polícia Penal trabalha em uma área inédita da ressocialização que é a perspectiva que o PPL tem de sua própria vida, do futuro e dos seus sonhos, e elaborar essas metas é um primeiro passo para uma vida diferente, longe das atividades ilegais”, destaca o policial penal e gestor da Cadeia Pública de Medianeira, Carlos Rogério de Oliveira.

“É fundamental essa parceria com a Cadeia Pública de Medianeira, tendo como diretriz central metodologias para se alcançar o objetivo do sistema prisional que é o tratamento penal e a ressocialização. Nessa perspectiva, o projeto trouxe como reflexão aos privados de liberdade a transformação dos sonhos e objetivos em realidade, ensejando, portanto, o título do projeto Do Sonho à Liberdade”, enfatiza a presidente do Conselho da Comunidade de Santa Helena, Francielly Fernanda Aleixo da Silva Pessi.

Embora utilize ferramentas de ressocialização já conhecidas (no caso o trabalho), o projeto “Do Sonho à Liberdade” aborda uma área diferente da existência humana. Ele enxerga a pessoa privada de liberdade como um indivíduo que é fruto de suas escolhas e, com a confecção artesanal pode elaborar metas e idealizar um futuro diferente e, ao final da produção, é convidado a dividi-las com os demais participantes.

O projeto confeccionou até o momento cem filtros dos sonhos entre os dias 19 de fevereiro e 1º de março. Os PPLs participantes obtiveram a remição de 3 dias da pena pelos 10 dias trabalhados, conforme determina a Lei de Execuções Penais. Houve, durante todo o período de execução do projeto, o acompanhamento dos profissionais do Conselho da Comunidade de Santa Helena. Embora tenha sido um projeto experimental, os resultados animadores podem colocá-lo como projeto permanente em um futuro próximo.

Os filtros dos sonhos serão entregues durante o evento “Women’s Day”, realizado pelo Projeto Elas Por Nós, do Conselho da Comunidade de Santa Helena, às 15h30 desta quinta-feira (7), no Fórum Estadual, em Santa Helena.