sábado, 19 de abril de 2025

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Direto de Washington, cascavelense fala sobre a guerra comercial

No entanto, segundo o economista, o que pode se observar nos Estados Unidos é que os efeitos práticos, até o momento, ainda não chegaram ao bolso do consumidor americano.

Gerada por IA/DALL-E

Washington – Um momento de indecisão, mas de muita efervescência e incerteza econômica, é o que relata o economista cascavelense Vander Piaia, sobre a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Em entrevista exclusiva ao jornal O Paraná, direto dos EUA, onde está em viagem, Piaia avalia que os impactos internos da disputa ainda são difíceis de mensurar, mas já começam a se fazer sentir no início do segundo mandato do presidente Donald Trump.

“Aqui nos Estados Unidos, o que a gente ouve muito é que o pais ao longo dos anos exportava empregos e importava itens, favorecendo o crescimento de nações como a China”, afirma Piaia. A retórica do presidente Donald Trump, em seu segundo mandato, tem girado em torno de reindustrialização, proteção de empregos americanos e redução do déficit comercial com Pequim — que fechou 2024 em US$ 295 bilhões, conforme dados oficiais. A nova política tarifária, que atingiu 245% sobre produtos chineses, já movimentou mais de 75 países em torno de novos acordos comerciais.

Segundo o especialista, houve a perspectiva de superávits, no entanto, ainda não foi possível verificar a fonte. “Nos primeiros meses essa nova política acrescentou superávits, mas ninguém sabe a fonte desses superávits ainda, se são os cortes, se são a diminuição do comércio com o exterior, a compra de menos importados, de qualquer maneira, ainda está muito polêmica essa posição, não está clara para ninguém. Existem críticos muito fortes dizendo que pode levar os Estados Unidos a uma inflação elevada, uma diminuição do crescimento”, explicou.

No entanto, segundo o economista, o que pode se observar nos Estados Unidos é que os efeitos práticos, até o momento, ainda não chegaram ao bolso do consumidor americano. “Não houve nenhum efeito prático ainda, no bolso do consumidor. Contudo, todo dia está acontecendo novas coisas, há sempre novas declarações”, observa Piaia.

Apesar da aparente calmaria nas prateleiras, o economista prevê um impacto inflacionário em breve. “As pessoas ainda não estão preocupadas com a inflação porque elas não perceberam ainda. Mas se espera que isso acabe refletindo, sim, nos preços, na medida em que novos estoques de importados acabem chegando às prateleiras”, explica, lembrando que o ciclo de importação é demorado e os estoques atuais ainda foram adquiridos antes das novas tarifas.

Concessões estratégicas - Vander também destaca que, mesmo com o discurso de endurecimento, o governo Trump fez concessões estratégicas: “Ele acabou relaxando, digamos, as taxas para importar alguns itens dessas tecnologias, como microchips da China, para permitir que essas indústrias continuem operando”. A medida, segundo ele, é reflexo da pressão de gigantes americanas do setor de alta tecnologia e inteligência artificial, que dependem da cadeia de suprimentos chinesa.

Desgaste interno - Em paralelo ao embate externo, Trump também enfrenta desgaste interno crescente. “Ele está sofrendo muito. Está tendo uma oposição muito forte. Ele está, digamos assim, brigando com Harvard, com o Kennedy Center… e acabou demitindo o diretor e disse: ‘aqui quem manda agora sou eu’”, relata Piaia. Para o economista, essa postura tem polarizado a população. “Tem feito com que as pessoas tomem posições muito contrárias a ele. Mas também tem aqueles sujeitos mais conservadores, como eu tenho visto em alguns lugares, placas dizendo: ‘estou contigo, Trump’”.

Dívida interna - Outra preocupação observada por Piaia em Washington é o crescimento da dívida pública americana, hoje estimada em US$ 36 trilhões. “Existem placas em vários lugares, painéis em que se aponta esse número da dívida. Não é propaganda oficial, mas de entidades privadas preocupadas com o crescimento da dívida”, afirma. Ele acredita que isso evidencia o alerta de grupos independentes, ainda que o consumidor médio ainda não esteja sentindo os efeitos dessa pressão fiscal.

Cenário imprevisível - A guerra tarifária entre as duas maiores economias do planeta já está alterando os fluxos comerciais internacionais. A China, que enfrenta tarifas recordes, começa a redirecionar suas exportações via países do Sudeste Asiático, como Malásia, Vietnã e Tailândia, para escapar das barreiras. Os EUA, por sua vez, ensaiam contra-atacar impondo tarifas recíprocas também a esses países.

Para Vander Piaia, o momento exige cautela: “É um momento ainda de indecisão, mas de muita efervescência, muita coisa acontecendo. Aqui nos Estados Unidos, então, não está nada claro ainda”.

Vandré Dubiela/O Paraná

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