Itaipu participa de debate sobre agricultura regenerativa e seu papel no clima
Evento fez parte da programação da 62ª Conferência dos Órgãos Subsidiários da ONU (SB62), na Alemanha..
Nas discussões sobre o enfrentamento das mudanças climáticas, a substituição de fontes fósseis por energias renováveis é prioridade, mas a agricultura regenerativa é um tema que vem ganhando força nesta 62ª Conferência dos Órgãos Subsidiários da ONU (SB62), de 16 a 26 de junho em Bonn, na Alemanha. O evento é uma preparação para a Conferência Mundial do Clima (COP30), que será realizada em Belém, em novembro.
Para o Brasil, trata-se de um tema vital, uma vez que o país tem um duplo destaque no cenário mundial das mudanças climáticas: por um lado é um país com forte participação de renováveis na matriz elétrica, o que o coloca como um líder natural na transição energética. Por outro, pesam os impactos negativos do mau uso do solo, com o desmatamento, queimadas e práticas agrícolas insustentáveis, como monoculturas extensivas, excesso de pesticidas e falta de manejo adequado.
Nesse contexto, as práticas da agricultura regenerativa constituem um tema em ascensão, apontando um caminho para conciliar uma atividade humana essencial, que é a produção de alimentos, com a conservação dos ecossistemas e suas consequências positivas para o clima.
O assunto foi tema de um debate que reuniu, na última sexta-feira (20), a presidente e fundadora da Natural Capitalism Solutions, Hunter Lovins, o coordenador-geral da Aliança pela Soberania Alimentar da África, Million Belay, e a chefe do escritório de Brasília, à frente dos temas internacionais da Itaipu, Lígia Leite Soares. O debate teve mediação de Merijn Dols, co-fundador do Fórum da Economia do Futuro e representante da NOW Partners.
Lígia abriu o debate apresentando as experiências da Itaipu em 434 municípios do Paraná e Mato Grosso do Sul e que fazem parte do programa Itaipu Mais que Energia. Para a empresa, os cuidados com a água, o solo, as pessoas e os ecossistema são atividades indissociáveis da geração hidroelétrica, demonstrando uma relação intrínseca entre o cultivo de alimentos, a produção energética e a qualidade da água.
A apresentação também passou por iniciativas de impacto social e que estão alinhadas à Agenda de Ação proposta pelo governo brasileiro para a COP30 (especialmente no eixo Transformação na Agricultura e nos Sistemas Agrícolas), tais como: o projeto das Cozinhas Solidárias Sustentáveis (que abrange o combate à pobreza energética, substituição de gás de cozinha por biogás e a valorização do trabalho de cuidado nas comunidades, especialmente pelas mulheres); o programa Desenvolvimento Rural Sustentável (de apoio e assistência técnica a 7 mil famílias de agricultores familiares); e inovações tecnológicas (como o uso de inteligência artificial em aplicações diversas que vão desde a gestão de dados territoriais até o fortalecimento das conexões entre consumidores e produtores familiares orgânicos).
“Para fazer as mudanças necessárias nos meios de produção e consumo, é fundamental ouvir as pessoas e valorizar as soluções locais. Por isso, a Itaipu implementa suas ações com gestão participativa e usa a inovação como ferramenta de promoção da justiça social, fortalecendo as pessoas e a transição ecológica nos territórios”, afirmou.
Million Belay também aposta nas soluções locais para garantir mais sustentabilidade à produção de alimentos na África. Ele falou sobre as dificuldades de enfrentar a narrativa de que fora do modo industrial de produção agrícola e sem as sementes industrializadas não é possível produzir comida suficiente. Uma das iniciativas nesse sentido é a campanha “My food is Africa” (Meu Alimento é a África), que busca valorizar a cultura alimentar do continente.
Outra frente está no intercâmbio com o movimento de agricultores familiares do estado indiano de Andhra Pradesh, que envolve cerca de 800 mil pequenos produtores em transição para a agroecologia. As lições aprendidas levadas pelos indianos para a África são as mesmas que podem ser observadas na área de atuação da Itaipu, e incluem: abordagem de base comunitária; o foco na saúde do solo; drenagem correta da água da chuva para aumentar a resiliência climática; práticas naturais que aumentam a diversidade da microbiologia do solo; e apoio governamental para aumentar a escala dos projetos, entre outras.
“Entre os resultados, vemos que hoje os negociadores africanos estão tratando da agroecologia no âmbito do G77+China. Vemos também que União Europeia incluiu as práticas agrícolas sustentáveis como medidas de enfrentamento da crise climática no Conselho do Clima”, comentou Belay.
Hunter Lovins destacou como as práticas agroecológicas são um caminho para promover a regeneração dos ecossistemas e do clima, e para a promoção da justiça climática, dando resiliência àqueles que estão entre os primeiros impactados. “Estamos falando de fazer desses pequenos produtores familiares não as vítimas, mas os heróis do clima”, sentenciou Hunter, encerrando com prognóstico positivo: “Todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão relacionados à agricultura. Ou seja, sabemos como resolver a crise climática e vamos fazer isso”.