Investigação sobre padre preso em Cascavel aponta que antigo arcebispo sabia dos abusos e também é suspeito
Polícia Civil apura denúncias de vítimas e possível omissão da Igreja Católica em casos que teriam começado ainda em 2009.
Na manhã desta segunda-feira (25), a delegada Thaís Zanatta, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (NUCRIA), concedeu coletiva de imprensa para detalhar a prisão preventiva de um padre de 41 anos, natural de Cascavel, acusado de abusos sexuais contra jovens e adolescentes. A prisão ocorreu no domingo (24), durante a Operação Lobo em Pele de Cordeiro, e foi realizada na casa da mãe do religioso, onde ele morava após ter sido afastado de suas funções eclesiásticas em agosto de 2025.
Segundo a Polícia Civil, as investigações começaram em julho deste ano, a partir da denúncia feita por uma tia de uma das vítimas. No cumprimento dos mandados, foram apreendidos computadores e celulares tanto na residência do padre quanto em uma clínica onde ele atuava como terapeuta. Os equipamentos serão periciados.
Até agora, três vítimas foram reconhecidas, todas do sexo masculino. O primeiro caso remonta a 2009 e 2010, quando, ainda seminarista, o acusado teria tentado estuprar outro seminarista em estado de sonolência – situação considerada vulnerável pela legislação penal. A denúncia, na época, foi encaminhada ao arcebispo de Cascavel, já falecido, mas não houve registro junto às autoridades policiais ou judiciais. O episódio foi mantido em sigilo mediante um termo de acordo, o que levantou suspeitas de omissão por parte da Igreja.
Outro episódio ocorreu entre 2013 e 2014, quando o padre já atuava em uma paróquia da cidade. De acordo com relatos, ele oferecia bebidas alcoólicas, presentes e dinheiro a acólitos, alguns menores de 14 anos, que pernoitavam em sua casa e chegavam a dormir no mesmo quarto e até na cama do religioso.
O caso mais recente aconteceu em 2019, envolvendo um jovem de cerca de 19 anos, ex-usuário de drogas, acolhido pelo padre sob pretexto de tratamento. O rapaz teria sido dopado e abusado sexualmente. A tentativa de suicídio dessa vítima em dezembro de 2024, que resultou em graves sequelas, foi o estopim para que familiares denunciassem formalmente o caso à polícia.
De acordo com a delegada Thaís Zanatta, onze pessoas já foram ouvidas, e algumas testemunhas relataram durante os depoimentos que também eram vítimas. “São pessoas que hoje têm entre 23 e 25 anos e, à época, tinham entre 13 e 15. Muitas não se enxergavam como vítimas, mas os relatos vieram à tona durante as oitivas”, explicou.
O padre segue preso na cadeia pública de Cascavel e pode ser transferido para uma penitenciária. Seu interrogatório ainda não ocorreu, já que este é o último ato da investigação. As denúncias contra ele incluem estupro de vulnerável, dopagem de vítimas e abuso de menores.
A Polícia Civil também apura a conduta da Igreja Católica local, que teria negligenciado denúncias anteriores. Até o momento não há investigação formal contra membros da instituição, mas, caso fique comprovada a condescendência criminosa, autoridades religiosas poderão responder judicialmente.
As investigações continuam e novas vítimas podem se apresentar nos próximos dias.