Acordo da COP30 amplia financiamento climático, mas deixa de fora combustíveis fósseis
Documento aprovado em Belém reforça apoio financeiro aos países em desenvolvimento, mas frustra expectativa por diretrizes sobre a eliminação de combustíveis fósseis.
Governos reunidos na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) chegaram, neste sábado (22), a um acordo que amplia o financiamento destinado às nações mais vulneráveis aos impactos do aquecimento global. O entendimento prevê que países ricos tripliquem, até 2035, os recursos voltados à adaptação das nações em desenvolvimento, diante de efeitos como elevação do nível do mar, ondas de calor, secas, inundações e tempestades.
Apesar do avanço financeiro, o documento final não faz referência aos combustíveis fósseis, como petróleo e carvão mineral, temas centrais para a redução das emissões de gases de efeito estufa. A ausência ocorre após intensas negociações, marcadas pela divergência entre a União Europeia — defensora de uma menção explícita ao abandono desses combustíveis — e países do Grupo Árabe, incluindo grandes exportadores de petróleo. O impasse foi contornado com a opção por um texto paralelo, apresentado pelo Brasil, que deverá tratar do tema à parte.
O acordo lança o chamado Acordo de Belém, que institui uma iniciativa voluntária para acelerar a implementação das metas nacionais de redução de emissões. O texto também pede que órgãos climáticos estudem formas de alinhar o comércio internacional à agenda climática, diante de preocupações com barreiras comerciais que possam atrasar o avanço de tecnologias limpas.
Ainda que o financiamento tenha sido ampliado, setores da sociedade civil demonstraram frustração pela ausência de um cronograma para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, proposta defendida por mais de 80 países. A expectativa por um mapa de transição energética não avançou, apesar dos esforços do governo brasileiro para incluir o tema.
Entre os pontos considerados positivos, o documento final reconhece a importância das comunidades afrodescendentes e dos povos indígenas no enfrentamento da crise climática, destacando seus conhecimentos tradicionais, direitos territoriais e papel no engajamento social. Iniciativas como o Acelerador Global de Implementação e a Missão Belém 1,5 também foram apresentadas para apoiar países na execução de suas metas e planos de adaptação.
Especialistas avaliam que, embora o acordo represente avanços institucionais e novos compromissos, ele ainda não responde plenamente à urgência climática indicada pela ciência. A COP30, realizada em Belém, evidencia tanto os limites da governança internacional quanto o crescente protagonismo de comunidades e territórios que impulsionam soluções para a crise ambiental.