Agosto Dourado: “Amamentação é 60% emocional e 40% fisiológica”, alerta especialista
Policlínica Hospital de Cascavel promove roda de conversa e troca de experiências entre mães e profissionais...
O ato de amamentar, apesar de muito idealizado e romantizado, é vivenciado de forma particular por cada mãe e bebê. Nem sempre o início do processo flui de maneira natural. Podem acontecer questões fisiológicas com o peito, com o bebê, a técnica ainda tímida da mãe de primeira viagem pode necessitar de ajustes, mas para a experiente médica neonatologista Giselle Lustosa de Melo, a amamentação é composta de um significativo percentual emocional. “Quando um bebê chega, todos os olhares se voltam para ele e as mães ficam um pouco esquecidas e tendo que lidar com toda a carga hormonal e emocional. Então, é preciso ter esse cuidado com as mães, enxergá-las e ajudá-las. Eu digo que a amamentação é composta 60% do lado emocional da mulher e 40% do fisiológico. Algumas mulheres se sentem envergonhadas por não ter experiências incríveis e fáceis como as que imaginamos serem ideais. O puerpério é um período onde a gente não se reconhece, estamos nos redescobrindo como pessoa, agora mães, e por isso esse apoio psicológico é fundamental”, alerta a médica, que coordena a UTI Neonatal do Policlínica Hospital.
A psicóloga Caroline da Silva Fantini reforça que a amamentação vai além do ato físico e precisa ser entendida e observada como tal. “O período do puerpério é um período fisiológico e psicológico, então a amamentação vai muito além do ato de amamentar. A mulher atravessa uma série de questões nessa fase, por exemplo, aquilo que ela foi antes da gestação e não vai mais ser, o que já é uma questão muito grande, porque são pequenos lutos que ela vai vivenciando. Ela sai do lugar de apenas mulher e passa a ocupar também o lugar de mãe. Esse suporte psicológico é fundamental para auxiliar que ela consiga se fortalecer para vivenciar isso. O puerpério é cheio de obstáculos e nós precisamos identificar eles e dar o apoio necessário para que esse período seja o mais leve possível” alerta a psicóloga.
Roda de conversa - Com o objetivo de oferecer esse apoio profissional e possibilitar a troca de experiências entre pacientes e profissionais, o Policlínica Hospital realizou no mês de agosto rodas de conversa, com o objetivo de desmistificar a amamentação e ajudar as mamães a entenderem o processo e a importância dele para o bebê. “Nós queremos empoderar as mães e puérperas para elas terem poder de decisão e saberem que mesmo em ocasiões especiais, como quando o bebê está na UTI, a amamentação é possível. O trabalho realizado no Policlínica visa fortalecer essas mães por meio de uma equipe especializada que conta com duas médicas neonatologistas, psicóloga e as mães profissionais responsáveis pelo posto de coleta do hospital, que ajudam com orientação e também a fazer a esgota e o armazenamento do leite” explica a médica.
A troca de experiências acontece entre mamães em fases e situações diversas, o que contribui para o entendimento e melhora dos processos vividos por cada uma. “Uma mãe que tem um bebê na UTI Neo muitas vezes não pode amamentar e se sente frustrada. Nesse momento de troca, ela consegue compreender que não é a única que passa por dificuldade nesse sentido e vê a situação dela por outra perspectiva”, garante a psicóloga Caroline.
As profissionais responsáveis pelo ponto de coleta de leite do Hospital repassam informações técnicas para que as mães consigam descobrir a melhor forma de vivenciar a amamentação. “Muitas vezes, as mamães chegam com medo por conta dos mitos que existem, outras sem saber como iniciar a amamentação, sem muito jeito para pegar o bebê, outras tem dúvidas sobre os benefícios para o bebê e a gente auxilia com tudo isso, orientando de forma objetiva para que ela entenda e consiga colocar em prática” explica a técnica de enfermagem, Raquel Assis Almeida.
Débora Alves é mãe de uma bebê de 9 meses e dividiu sua experiência na roda de conversa. Ela reforça que ações como essas são essenciais para que as mães entendam que cada vivência é única. “Essa troca de experiências é muito importante porque a gente se sente acolhida, vê que as outras mães também não têm experiências perfeitas. Quando a minha bebê nasceu, ela tinha língua presa e não conseguia pegar o peito, então precisou passar por um procedimento e só depois eu consegui amamentar de fato. Então foi um momento muito difícil, que eu me questionei inclusive como mulher e quando superei vi que não fui a única a passar por isso. Esse acolhimento que a roda proporciona é incrível porque a gente enxerga que nenhuma experiência é perfeita”, conta.