Basaglia enfrenta mitos do mundo corporativo e fala sobre ser único
Basaglia fez a palestra de abertura do 15º Conexão Acic na noite de quinta-feira e, para um público superior a 500 pessoas...
Há inúmeros elementos que contribuem para a construção do sucesso. E talvez um dos aspectos mais difíceis da jornada, pelo grau de habilidade exigido, é o de falar verdades e de atacar a fragilidade de mitos de uma maneira serena, elucidativa e sem provocar traumas no ego alheio. Ricardo Basaglia, um dos grandes caçadores de talentos da atualidade, reúne essa condição tão particular e cada vez mais valorizada, principalmente diante das artificialidades da pós-modernidade.
Basaglia fez a palestra de abertura do 15º Conexão Acic na noite de quinta-feira e, para um público superior a 500 pessoas, tocou em temas que para outros são considerados espinhosos. Com formação na área de TI, Basaglia afirmou que jamais soube planejar a sua carreira e o contexto só piorava por conta de sua timidez. As habilidades dos profissionais de hoje precisam ser ajustadas com a mesma performance dos navegadores usados para vencer o trânsito caótico das cidades.
No passado, afirmou ele, era mais fácil ser líder, principalmente porque agora há a presença de profissionais de gerações diferentes no mesmo ambiente de trabalho. A gestão de pessoas há muito faz as mesmas perguntas, mas as respostas mudam com o desafio da assertividade e da potencialização do resultado. Basaglia empregou nomes consagrados pela história para alicerçar os argumentos que apresentou, como o de Ray Dalio, que concluiu: “Sempre que quero entender o futuro eu olho os ciclos do passado”.
O futuro sempre foi assustador, independentemente da época. No início da popularização dos trens, “especialistas” sugeriam não andar neles porque o corpo não resistiria a velocidades superiores a 50 quilômetros por hora. E também não recomendavam utilizar o elevador sem a presença de um operador. Basaglia explicou o dilema: “O cérebro humano ainda é primitivo e seu objetivo é a sobrevivência. Por isso, identifica mais as ameaças que as oportunidades”. O ser humano evoluiu muito nos últimos três séculos, enquanto que muitos animais ainda agem da mesma forma que há milhões de anos.
O caçador de talentos lembrou que 91% dos profissionais são admitidos pelas habilidades e desligados por questões comportamentais. A gestão começa, segundo Ricardo Basaglia, pela autogestão e pelo poder de adaptação às mudanças. Ao citar que a arrogância, principalmente a interna, que é velada, destrói carreiras, ele afirmou que se sobressai quem emprega seu lugar de potência e coragem para ser único. “O principal quociente do sucesso, atualmente, é o poder da adaptabilidade”. A evolução profissional, seguiu ele, ocorre movida pela convicção, conveniência ou constrangimento.
Treinamento e capacitação contínua não são a chave para o sucesso, e sim transformá-los em conhecimentos e resultados, afirmou o palestrante, para dizer que 90% das pessoas não concluem os cursos on-line que contrataram. Metade delas sequer assiste a primeira aula. Ele lamentou que apenas 4% dos brasileiros falem inglês fluente e afirmou que todos sabem o que fazer, mas apenas uma minoria toma uma atitude e executa o que precisa ser realizado. “Você deve encontrar seu lugar de potência, entregando o seu melhor para aquilo que o mundo tem necessidade. Quando vários traços e habilidades são somados, percebe-se que você é único e se destaca por ser diferente”.
Time - Basaglia usou o exemplo de um grande Ceo para trabalhar conceitos da gestão de time. O primeiro passo é saber e reconhecer as lacunas da sua área e então criar ambiente de melhoria contínua e mostrar às pessoas os benefícios de somar conhecimentos e forças, reduzindo custos de transação entre elas e enfraquecer o tempo que outros gastam para formular uma percepção sobre o seu trabalho. Se o líder quer performance, afirmou, ele precisa mudar e se ajustar a cada pessoa do time. Reter talentos não é uma condição apreciada por Basaglia, que prefere que os colaboradores “renovem a sua assinatura com a empresa” a partir das boas experiências por ela oferecidas.
O gestor de talentos falou também de armadilhas comuns às empresas e alertou que a cultura é formada pelos piores comportamentos que se tolera. Respeitar a história e construir um legado perene de sua passagem pela corporação é importante, pontuou, para afirmar que reclamar da falta de recursos, financeiros ou humanos, é simplesmente uma desculpa para não fazer e não resolver problemas. Basaglia destacou que mais pessoas percebem os perigos do dopping corporativo e que o propósito não pode ser a base de tudo, porque muitas vezes ele não está no trabalho. E, para encerrar, citou uma frase de Peter Drucker, o pai da Administração: “As únicas coisas que evoluem em uma organização são a desordem, o atrito e o mau desempenho”.