Com 100 haitianos, Ceebja de Cascavel celebra identidade e cultura dos estudantes
Alunos e comunidade daquele país organizaram a celebração do Dia da Bandeira Haitiana, criada em 1803, durante o processo de independência contra o domínio colonial francês.
Com música, dança e comidas típicas, alunos oriundos do Haiti, integrantes da comunidade de Cascavel, no Oeste do Estado, celebraram sexta-feira (16), em grande estilo, no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) Professora Joaquina Mattos Branco, o Dia da Bandeira Haitiana. A data é de grande importância histórica e cultural para o povo do daquele país, já que a bandeira nacional foi criada 1803, durante o processo de independência contra o domínio colonial francês.
A comunidade escolar onde o Ceebja está inserido conta com forte presença de haitianos - segundo a direção, cerca de 100 dos 525 estudantes da instituição são imigrantes do país centro-americano. A iniciativa de organizar um evento para celebrar a história do Haiti surgiu dos próprios estudantes.
“Neste dia, lembramos a trajetória dos povos antigos, que lutaram pela liberdade que temos hoje. A cultura haitiana é um reflexo da história de resistência do povo haitiano, especialmente da luta pela liberdade e a independência. Somos a primeira nação negra libertada da escravidão, e isso nos traz muito orgulho e honra”, explicou o estudante Jean Widens Desir, de 24 anos, um dos organizadores do evento.
A programação incluiu uma cerimônia de abertura com a execução dos hinos nacionais brasileiro e haitiano, além da celebração da bandeira do Haiti como símbolo da resistência do país frente ao processo colonizatório. A exibição de um filme retratou a independência haitiana e foi seguida pela apresentação de poesias, músicas e danças características do país caribenho.
Estudantes, professores e funcionários do Ceebja, que prestigiaram o evento, também tiveram a oportunidade de conhecer pratos típicos do Haiti. Dentre as opções, destacou-se a Soup Joumou, sopa de abóbora considerada um símbolo da resistência haitiana. Também foram preparados macarrão com molho de frango, arroz temperado, carne de porco frita, banana assada e salada de repolho com pimentão e bolo recheado e frutas como sobremesa.
"A importância desse evento é lembrar a vitória e a liberdade do Haiti, e também apresentar um pouco da cultura haitiana e as nossas comidas incríveis aos amigos brasileiros”, acrescentou Jean.
INTERAÇÃO – Artistas e representantes da comunidade haitiana em Cascavel também foram convidados a participar do evento, que recebeu total apoio da coordenação pedagógica do Ceebja.
“A organização foi feita pela comunidade escolar, com atenção à parte pedagógica. Construímos o evento com pesquisas e buscando a interação entre alunos brasileiros, haitianos e venezuelanos que estudam aqui”, destacou o diretor do Ceebja, Jacir Dias. “Foi muito bom para aprendermos mais sobre a cultura haitiana, bem como integrar os alunos estrangeiros aos brasileiros”.
EDUCAÇÃO COMO FORMA DE INTEGRAÇÃO – Há cerca de dois anos, Jean Widens Desir deixou o Haiti em busca de uma vida melhor no Brasil, devido à crise humanitária e de segurança em seu país natal. No início do ano passado, o jovem encontrou no Ceebja a oportunidade para retomar os estudos do Ensino Médio.
Hoje, ele concilia o trabalho em uma indústria da região com um curso de Edição de Vídeo e Fotografia e os estudos no Ceebja, que deve concluir em julho. “Sou uma pessoa estudiosa e gosto muito de aprender. Entrei no Ceebja porque quero concluir o Ensino Médio e depois fazer faculdade para seguir os meus sonhos”, projetou.
Jean e os demais estudantes haitianos representam quase 20% dos alunos do Ceebja. Para eles, a oferta de Educação de Jovens e Adultos (EJA) significa não apenas a continuidade dos estudos, mas uma oportunidade de integração à sociedade brasileira e adaptação à língua portuguesa.
“O Ceebja me ajudou muito, especialmente porque consegui aprender a língua portuguesa sem fazer um curso por fora. Aprendi e me acostumei com a cultura do Brasil, e me sinto orgulhoso por estar estudando aqui”, relatou Jean.
PROMOÇÃO DA IGUALDADE – A EJA é ofertada gratuitamente pelo Governo do Paraná, tanto na modalidade presencial quanto híbrida, em cerca de 250 instituições de ensino estaduais, espalhadas por todo o Paraná. A partir de 2010, com a instauração da Instrução n° 017/2010 da Secretaria da Educação do Paraná (Seed-PR), passou a ser implementada também por meio da Ação Pedagógica Descentralizada (APED) em quase todos os municípios paranaenses.
“Além de ser uma importante ferramenta de promoção de igualdade e justiça social, a Educação de Jovens e Adultos também tem um papel fundamental na integração de alunos internacionais que nos procuram para concluir os estudos. Nosso objetivo é exatamente esse: oferecer oportunidades para que essas pessoas sigam em frente e realizem seus sonhos no Brasil”, afirma o secretário de Estado da Educação, Roni Miranda.
As instituições estaduais de ensino com oferta da modalidade propiciam a conclusão dos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), para pessoas a partir de 15 anos, e do Ensino Médio, para pessoas a partir dos 18 anos.
As turmas de EJA são organizadas semestralmente, entretanto as matrículas podem ser realizadas durante todo o ano. Os interessados podem consultar as instituições de preferência neste link.
DIA DA BANDEIRA HAITIANA – O Dia da Bandeira Haitiana é celebrado anualmente em 18 de maio por moradores do Haiti e emigrantes haitianos espalhados pelo mundo. Primeiro país da América Latina a se emancipar, o Haiti também foi a primeira nação nas Américas a abolir a escravidão. O processo conhecido como Revolução Haitiana foi uma inspiração para o surgimento de movimentos independentistas e abolicionistas em todo o continente americano, inclusive no Brasil.